9 de setembro de 2010

DECISÃO CLÍNICA NO BRASIL


Mestre Aldemar Castro,

Você me pediu para analisar esta figura. Resolvi fazer uma carta aberta ao público para dar-lhe a resposta. 
Acredito que era para ser assim na tomada de decisões, mas os médicos estão baseando as suas decisões em qualquer coisa que passe a informação e não nesta estrutura didaticamente organizada para pesquisas de boa qualidade.Alguns exemplos podem ser comentados:
PRIMEIRO EXEMPLO: Ainda outro dia ouvi falar que a sequencia de massagens cardíacas e ventilações durante uma reanimação cardiopulmonar deveria ser de 60:2. Dai me apercebi que o 30:2 ainda não era o padrão e fui observar de onde esta informação veio. ACREDITE, veio de um estudo de animais e nós simplesmente estamos utilizando isso em humanos como se fosse o padrão ouro. 
SEGUNDO EXEMPLO (CORTANDO NA PRÓPRIA CARNE): Há um novo fármaco que vem para ficar na anestesia, sugamadex, que será um excelente reversor dos relaxantes musculares, mormente os ésteres, ou melhor ainda do rocurônio e do vecurônio. Um estudo em cães demonstrou que a dose de 16 mg/kg pode reverter os relaxantes musculares mesmo que o bloqueio seja profundo. ACREDITE, um trabalho em cães está delineando a conduta em seres humanos e sob anestesia. O FDA já se postou contra o uso indiscriminado do fármaco, pois, há uma suspeita grande de que possa ocorrer em HUMANOS reações alérgicas. O FDA aprova o uso em algumas situações. Será que no Brasil vamos conseguir segurar o uso indiscriminado do medicamento?
TERCEIRO EXEMPLO: Os consensos foram a melhor coisa para quem não quer ou não gosta de se atualizar. Um consenso de asma criado para a população norteamericana vem sendo utilizado muito pelos clínicos do Brasil. Ninguém percebe que as condições socioeconômicas dos pacientes não são as mesmas e que a complexidade dos hospitais também é diferente. O consenso diz que se deve observar a resposta do paciente após o uso de agente betaadrenérgico inalado para tomar as decisões sobre repetir o fármaco, utilizar corticóide imediatamente ou liberar o doente. Nos Estados Unidos observar as respostas do paciente significa utilizar um aparelho, que está amplamente disponível nos hospitais, que mede a quantidade de gás exalado e fazer a comparação com o momento antes do fármaco, agora no Brasil, onde o mesmo consenso é seguido, observar as respostas do paciente significa ter a intuição clínica de que o paciente melhorou sem utilizar nada a mais do que a presença do médico.
Uma pesquisa publicada pelo Bryan Haynes em 1990 nos fez ver claramente que 90%  dos médicos norteamericanos baseiam as suas informações apenas na leitura dos resumos dos artigos. Aqui no Brasil quantos médicos lêem artigos ou seus resumos? 
Achei a figura significativa e esclarecedora para o processo de tomada de decisões clínicas, mas fiquei em dúvida se no Brasil isto funciona desta forma no momento da tomada de decisões clínicas perante o doente.  

Um abraço

Timbó

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