21 de novembro de 2010

Possíveis Usos da Oximetria Venosa na Prática Clínica da Terapia Intensiva

Resumo
A mensuração do oxigênio (O2) é uma ferramenta importante para monitorizar o sistema cardiovascular. O objetivo deste artigo é descrever alguns usos possíveis da oximetria venosa na prática clínica da terapia intensiva. Desenvolveu-se estratégia de busca para o PUBMED para a identificação de artigos relevantes ao tema. Os valores numéricos da saturação venosa mista de oxigênio e da saturação venosa central não são iguais, mas são equivalentes e podem auxiliar no manuseio dos pacientes críticos com provável redução da mortalidade.   
 
Introdução
O sistema cardiovascular é o responsável pela demanda arterial de oxigênio (DaO2) e pelo transporte de metabólitos ao meio externo. A maquinaria da mitocôndria torna possível a produção de energia para a manutenção das funções celulares vitais e o oxigênio é vital neste processo. (1) A mensuração do oxigênio (O2) é uma ferramenta importante para monitorizar o sistema cardiovascular. O objetivo deste artigo é descrever alguns usos possíveis da oximetria venosa na prática clínica da terapia intensiva

Método
Foi desenvolvida uma estratégia de busca para o PUBMED para a identificação de artigos relevantes ao tema. A estratégia foi: ("venous"[All Fields]) AND ("blood gas analysis"[MeSH Terms] OR "blood gas analysis"[All Fields]) AND “anesthesia” [MeSH Terms]. Em seguida foram selecionados e reunidos em conjunto os artigos que pudessem elucidar o tema saturação venosa. Os dados foram analisados qualitativamente.

Oferta e consumo de oxigênio 
O O2 é conduzido ao organismo pelas vias aéreas, é trocado pelo dióxido de carbono (CO2) nos pulmões, liga-se a hemoglobina, é transportado aos tecidos, nos capilares sofre difusão até as células, penetra na mitocôndria, inicia o processo de produção da adenosina-trifosfato (ATP) via fosforilação oxidativa e todo este processo é conhecido como DaO2. O organismo não possui reservas significativas de O2 e em casos de necessidade ocorre exaustão em poucos minutos. (2) É necessário que ocorra equilíbrio entre a DaO2 e o consumo metabólico de O2 (VO2) para que a homeostase corporal não esteja comprometida com a hipóxia que é o principal cofator para a falência multiorgânica. (3)
A hipóxia leva a produção de ATP pelo metabolismo anaeróbico que torna-se ineficiente em poucos segundos, dependendo da necessidade corporal de  O2, levando ao surgimento da acidose lática que representa disfunção celular. (1)

Oximetria venosa na prática clínica
Os dois principais instrumentos para a monitorização da oximetria venosa são o cateter de artéria pulmonar, que providencia a saturação venosa mista de O2 (SvmO2), e o cateter venoso central, que providencia a saturação venosa central de O2 (SvcO2).  (1) A SvcO2 é menos invasiva e clinicamente mais acessível e forma uma parte da SvmO2 que é clinicamente mais representativa da oxigenação tissular global, mas que não faz mensuração das reservas tissulares de O2. (1)
O estudo de Chawla e col. realizou uma observação prospectiva de pacientes adultos em estado crítico que foram monitorizados com cateter de artéria pulmonar e demonstrou que os valores de SvcO2 são aproximadamente 5% maiores que SvmO2 devido a contribuição da circulação coronariana. (4) Outros estudos em animais e em seres humanos contribuíram para se perceber que os valores numéricos da SvmO2 e SvcO2 não são iguais, mas são paralelos e se correlacionam. (5,6) Foi baseado em alguns destes estudos que Rivers sugeriu valores que se aproximem de 75% para SvcO2 como parâmetro para guiar o tratamento de pacientes críticos em estado de sepse e que valores abaixo de 65% sugerem o desenvolvimento da disfunção multiorgânica e o estado de choque. (7)
O estudo de Teixeira e col. realizou um análise multicêntrica em pacientes adultos com mais de 48 de ventilação mecânica analisando valores da oximetria venosa para auxiliar no desmame da ventilação mecânica. (8) A taxa de reintubação foi de 42,5% e uma queda maior que 4,5% na SvcO2 foi identificada como um fator preditor precoce e independente para a falha na extubação traqueal com sensibilidade de 88% e especificidade de 95%.
O estudo de Perner e col. observaram prospectivamente pacientes adultos com choque séptico que foram monitorizados com cateter de artéria pulmonar. (9) A SvcO2 maior ou igual a 64% indica um índice cardíaco maior que 2,5 L/min/m2 com valor preditivo positivo e negativo de 91% com intervalo de confiança de 85% de 79 a 98% e de 59 a 100% respectivamente.

Considerações finais
Os valores numéricos da SvcO2 e da SvmO2 não são iguais, mas são equivalentes e podem auxiliar no manuseio dos pacientes críticos com provável redução da mortalidade.   

Referências
1. Bauer P, Reinhart K, Bauer M. Significance of venous oximetry in the critically ill. Med Intensiva. 2008;32(3):134-142.
2. Reinhart K, Schäfer M, Rudolph T, Specht M. Mixed venous oxygen saturation. Applied Cardiopulm Pathophys. 1989;2:315-325.
3.  Marshall JC. Inflammation, coagulopathy and the pathogenesis of multiple organ dysfunction syndrome. Crit Care Med. 2001;29(7Suppl):S99-S106.
4. Chawla LS, Zia H, Gutierrez G, et al. Lack of equivalence between central and mixed venous oxygen saturation. Chest. 2004;126:1891-1896.
5. Reinhart K, Rudolph T, Bredle DL, Hannemann L, Cain SM. Comparison of central-venous to mixed-venous oxygen saturation during changes in oxygen supply/demand. Chest. 1989;95:1216-1221.
6. Reinhart K, Kuhn HJ, Hartog C, Bredle DL. Continuous central venous and pulmonary artery oxygen saturation monitoring in the critically ill. Intensive Care Med. 2004;30:1572-1578.
7. Rivers E. Mixed venous vs central venous oxygen saturation may not be numerically equal, but both are still clinically useful. Chest. 2006;129:507-508.
8. Teixeira C, da Silva NB, Savi A, Vieira SR, Nasi LA, Friedman G, et al. Central venous saturation is a predictor of reintubation in difficult-to-wean patients. Crit Care Med. 2010;38(2):491-496.
9. Perner A, Haase N, Wiis J, White JO, Delaney A. Central venous oxygen saturation for the diagnosis of low cardiac output in septic shock patients.Acta Anaesthesiol Scand. 2010;54(1):98-102.

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