9 de março de 2011

Anticocígeno

 Eu estava de plantão, mas como médico de UTI, quando repentinamente e às 23:00 h fui abordado pela cozinheira do hospital que estava a paisana. Assim que me viu não disse nem boa noite, mas foi logo dizendo assim:
- Doutor, estou com uma coceira dmuito grande devo tomar o quê?
A vontade que tive foi dizer “tome um anticocígeno”, mas a boa educação que minha mãe me deu ressaltada pelas aulas da faculdade de medicina me impediu, acabei falando o seguinte:
- Não sei, sua descrição da doença não me faz pensar em nada. Pode ser muita coisa!
Ai ela entendeu o recado, resolveu baixar a guarda e disse:
- Eu tomei azitromicina nestes últimos dias e depois fiquei com coceira e manchas no corpo.
Eu pensei logo que se tratava de reação alérgica clássica. Poderia passar algo, mas fiquei tão chateado com a abordagem inicial que pensei em dizer “vá pra casa se coçar até o efeito passar, morrer ou dormir”, pois, já havia 10 minutos e nem uma coceira ela teve e nem eu vi, mas falei:
- Procure seu médico ele é o responsável pelo tratamento.
Uau! Pasmem, ela ia falar com o médico no outro dia logo cedo pela manhã. Merecia ou não merecia ficar com a coceira? Passei mais uns trinta minutos respondendo as suas perguntas sem que ela aceitasse que se tratava de alergia e queria muito um remédio. Só pela abordagem inicial, ficou sem ele.
Depois de alguns dias soube que o médico diagnosticou alergia, mas não havia necessidade de tratamento. Só observação.
Mas que mereceu ficar com a coceira, mereceu. Um pequeno sofrimento para um grande aprendizado na vida pessoal que Deus lhe deu. E eu, como uma pessoa educada, nem com raiva fiquei. Não foi?

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