7 de maio de 2011

RIVOTRIL VERSUS DOR NA CABEÇA



Eu precisei tomar clonazepam por recomendação médica e senti forte dor na cabeça. ISSO ME FEZ ANALISAR A BULA DO MEDICAMENTO. Não estou fazendo nenhum tipo de análise para denegrir a imagem do laboratório ou da medicação porque em meus plantões de terapia intensiva o prescrevo bastante para garantir sedação consciente.
A bula tras uma informação crucial sobre dor na cabeça: placebo (24,%), 1 a 2 mg/dl (13,2%) e assim por diante com as demais doses. Vamos analisar o que está na bula:
  1. Placebo. Que placebo foi utilizado que dá tanta dor de cabeça nos pacientes? Era para ser um medicamento INERTE E SEM EFEITOS COLATERAIS como o soro fisiológico em pacientes não asmáticos. É muito dor só para um placebo. Tem algo errado na informação ou na pesquisa que gerou a informação. O laboratório deveria por a referência bibliográfica para que nós pudéssemos buscar o que houve de errado. 
  2. População de referência na bula. A população mencionada são os portadores de DISTÚRBIO/TRANSTORNO do PÂNICO que já é sabidamente possuidora de altos níveis de dor na cabeça. Nós, normais, somos diferentes dos portadores deste transtorno no sentido de que, como eu, todos possam ter dor na cabeça ou apenas alguns apresentem este efeito colateral. O laboratório deve pesquisar em indivíduos normais e não esperar que nós manifestemos os sintomas aos médicos para que os mesmos façam isso aos laboratórios.
  3. Estatística. Fiquei imaginando como pesquisador qual a estatística que foi utilizada para captar que 24,8% (294 pessoas) apresenta estatisticamente a mesma dor que 13,2% (129 pessoas), ou seja, não há diferença entre 24,8% e 13,2%. Que estatística é essa que não capta uma diferença tão grande a favor de que o placebo tenha mais cefaléia? Qualquer uma dirá que o medicamento é melhor e o leigo só em olhar não precisa nem de estatística, pois, 24% é muito maior que 13%.
  4. NNH. O NNH é o número necessário para o dano (dor na cabeça). É uma medida da medicina em evidências. Fórmula é NNH = 1/24,8%-13,2%. Só que originalmente usa-se sem a porcentagem e sim a proporção. Se fossemos todos portadores de DISTÚRBIO/TRANSTORNO do PÂNICO o resultado seria NOVE, ou seja, quando NOVE pessoas fossem tratadas UMA apresentaria dor, mas e em nós como se faz este cálculo? Não sabemos em nós o valor. Já pensou se o nosso NNH for de QUATRO, ou sejam a cada quatro de nós UM teria dor.
Em suma, os pacientes não devem considerar a informação passada sobre o placebo sem saber sua referência, os médicos de consultório devem ter mais critérios na escolha dos pacientes que utilizarão este fármaco, estudos mais confiáveis e com uma estatística mais aprimorada devem ser utilizados no futuro.

Agora, respondendo a uma pergunta que não quer calar: por que eu o prescrevo tanto na UTI e sou seu fã? Porque não houve uma só vez em que o meu paciente já não estivesse tomando algum tipo de analgésico. Para UTI é bom e todos dormem mesmo e bem, sem sombra de dúvida funciona mesmo.

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